Sarau
Para esquentar a alma, os corações e os tamborins, está chegando nossa tão esperada última quinta do mês com o animado Sarau da Casa Poema, dia 31 de maio a partir das 20h. Como a maioria já sabe, a entrada é muito franca. Pedimos (a quem puder) trazer um livro de poesia novo ou usado, para nossa singela biblioteca poética. Estão todos convidados a subir ao palco do Teatro Possível para mostrar do que são capazes ou, se preferirem, a gente deixa somente assistir. Pode trazer instrumentos, viu, pessoal?! Nosso encontro já está marcado! Portanto, não vale faltar!
Nossas turmas do Curso Livre de Poesia Viva estão a todo vapor!
Durante a Festa Literária de Santa Tereza, no início de maio, os alunos da escola foram convidados para fazer um recital poético no Restaurante Santè, que tem um visual deslumbrante e os chefs dos deuses. Foi lindo e a comida é realmente mais que saborosa. A Casa recomenda!
As turmas estão finalizando um belo processo para o Recital “A Poesia da Canção”, com as letras de nosso querido Zeca Baleiro que serão ditas como poemas. Venham conferir! Quem quiser, pode assistir a uma das aulas, sem compromisso. É só entrar em contato com a gente, deixar o nome e escolher: segunda-feira das 20h às 22h ou quarta-feira das 10h às12h. Fiquem ligados, pois divulgaremos a data do Recital muito em breve!
Estamos abrindo uma nova turma com encontros às quintas, das 19h às 21h. Quem vier assistir a uma de nossas aulas e reservar vaga para essa nova turma, ganha isenção na taxa de inscrição.Aproveite a promoção poética!
Oficina de Poesia Viva
“Trazemos a pessoa amada por si mesma, em cinco dias”
Do dia 16 ao dia 20 de julho (segunda a sexta), das 20h às 22h, acontece nossa imersão poética ao lado desta nobre arte que é a Dona Poesia.Você não pode perder mais essa oportunidade de se fazer feliz!
Inscrições abertas.
EXTRA, EXTRA, EXTRA!
Novidade chegando para rechear os corações inocentes:
“Casinha Poema – ColôniadaPalavra”
Para os pequeninos curtirem as férias de uma forma diferente estamos preparando uma saborosa programação mista de jogos com palavras, atividades artísticas, artistas convidados e a estréia da turminha de poesia falada para crianças. Já imaginou seu filho, seu sobrinho, seu afilhado, seu irmãozinho, seu enteado, enfim, a criança que tem a honra de estar sob seus cuidados no caminho, falando poema de um jeito sincero e encantador? Já pensou, um ser pequenino “dando aula” para o mundo, com versos de paz e amor?
Pois bem: a Casinha Poema acontecerá de 23 a 27 de julho.
Vagas limitadas! Apenas duas turminhas! Crianças a partir de 06 anos!
- Manhã- 10:00 à 12:30
- Tarde- 14:30 às 17:00
Inscrições abertas!
Vagas limitadas.
Informações:
(21)2286-5977 / 9708-9885
escola@casapoema.com.br
Fiquem com um conto de nossa querida Elisa Lucinda.
Dorinha, a sereia de Jacaraípe.
À minha irmã Margarida Eugênia
É a primeira vez que escrevo isso: Meu nome é Dora, Dora Alice Bastiana da Costa, mas os outros me tratam por Dorinha. Eu também me trato assim. É a primeira vez que escrevo meu nome sem ser em documento. Se bem que são os arredores de Jacaraípe, no ano de 1968 e na aldeia em que moro quase num tem nada pra assinar não, bobo. Bem, se eu for do começo, eu vim ao mundo a barriga de minha mãe, dona Pretinha. Nossa casa era no quintal da casa de minha vó Menina. Os adultos da minha infância eram todos órfãos de leitura e vó Menina, até inventou um alfabeto que só ela entendia. Fazia uns desenhos diferentes, dizia que era letra e enchia o caderno dela, que ela chamava de Diário de uma África. Meu pai era pescador, Alcides, irmão de seu Euclides. Mulherengo, o apelido do meu pai era Cidinho Boto; um homem casado com outra mulher, pai oficial de outra família e cheio de namoradas por aí. Com mamãe foi porque uma vez era de tarde, o sol caía de um lado, a lua nascendo no mar, dois corações de dezoito anos, nenhuma escola e muita vontade de amar. Nasci e cresci vendo e ouvindo homens que vem e que vão para o mar. Até que um dia Yemanjá mandou o meu. A vidente tinha dito já. Um dia na festa de São Benedito, meu avô Davino, mestre da banda de Congo da Serra, e nós danemos a dançar adijunto, eu num queria nunca mais parar. Na verdade, me apaixonei por ele de manhã, vendo o mar batendo na praia, e antes do meio dia aquele barco chegando, tendo um príncipe por capitão. Chegou luminoso, cheio de peixes na mão. O sol batendo prateava tudo, mas o nome do bicho era Dourado. Dourado também, logo depois da noite do congo, se tornou meu coração por ele. E batia de acordo com a onda do mar. No sábado seguinte, eu não sei porque, porquê eu lá nada tinha que fazer, fui parar pros lado do riozinho, bem lá no centro mesmo de Jacaraípe, longe da minha aldeia. Parecia um chamado, meu vestido branco, cheio de florzinha no estampado, era muito parecido com as ondinhas que chegam na areia, na parte em que começa o babado. Parecia parente das ondas do mar. Se sereia fosse verdade, eu bem que podia ser agora uma delas. Não tinha ninguém na praia e eu pensava em Tavinho, fingia que o vento era ele. Fechava os olhos e sonhava que era ele soprando no meu pescoço, que era ele me conduzindo para o sul. De repente, é ele que eu vejo surgido sem camisa, só com aquela calça branca de algodão cru, parecendo um capoeirista do quadro que eu vi na revista da minha prima. Fiquei tão nervosa com o sorriso dele, com ele chegar assim, como que saído dos meus pensamentos, tomando a realidade, assaltando o fato e trazendo-se em acontecimento para dentro da minha fantasia. E disse: “Dorinha, você é a moça mais linda que eu já vi. Agora então, dançando nessa brisa, na luz do fim da tarde, nossa mãe!”. Fiquei vermelha, mas estava gostando. Meu rosto ficou quente e ele viu meu olhar dizendo: continua. E obedeceu: “Faz de conta que eu sou pintor ou desenhista e o lápis ou o pincel são os meus olhos. Onde eu olhar, você vai sentir, é eu riscando devagarzinho”. E assim foi, fiquei parada no tempo, suspensa no ar, e no meu ventre, de menina virgem ainda, sem saber porque, senti um pulsar. Tavinho me beijou delicado no final do “desenho”, o gosto era tão bom que parecia que a gente ia flutuar. Foi tudo rápido demais. Uma ladeira, um morro abaixo, de muito bom. Ninguém podia segurar o nosso amor. Foi debaixo do coqueiro, onde tinha uma barraca que era a garagem dos barcos, que eu fui dele a primeira vez. Com aquela mania de me desenhar com o olhar, meu moreno gostoso, ficou olhando pros meus peitos e queria com eles se casar. Os peitos pareciam que escutavam a conversa, e começaram a se arrepiar. Meu noivo falou, eles estão dizendo sim, falou só para me caçoar. Mas eu sorri confiante e disse: eu sei, eles acabaram de aceitar. E logo depois do crepúsculo, eu já era casada com ele, quando a aliança é a carne do amor. Três dias depois, me chamou na praia, disse que tinha feito um palácio para o reino do nosso amor, e que era um palácio que andava, que podia estar em todos os lugares e que o construíra em memória e em louvor àquela nossa primeira vez. Me levou pela mão, de olhos vendados para ver a surpresa. Eu descalça, sentia a mudança do grão da terra nos meus pés, uma parte era mato, outra parte era areia, outra parte era lama, e tudo era estrada de chão; passamos por uma florestinha de arbustos, cheia de Dedos de Capeta, planta muito comum nessas bandas. Mas eu ia. Nas asas daquela confiança. Chegamos ao local, tirei o lenço dos olhos e vi o palácio. Era um barco novo, azul e branco, lindo, onde estava escrito “Dorinha, meu amor”. Eu nunca tinha chorado de felicidade, era a primeira vez. Graças a Deus vó Menina estava chegando na praia aquela hora e parecendo uma Yemanjá velha falou: “Esse barco é o casamento de vocês”. E foi. O sonho de Tavinho era a nossa família, as duas filhas que tivemos e a vontade de estudar. “Sabe Dorinha, se eu não fosse pescador, eu ia ser escritor. E existe isso? – eu perguntei. Existe, uai, e tem mais, dentro do escritor o sujeito ainda pode ser poeta; o anzol deles é a palavra. Eu acho que não ia ser difícil pra mim”. Mas não tinha escola perto e a família não tinha costume. Todo dia quando ele ia pro mar, lá ia eu pra beira na hora combinada esperando ele voltar. Uma vez na casa da minha madrinha, lá em Manguinhos, eu ouvi um disco dum homem chamado Dorival. Acho que ele era pescador, porque falava assim “O bem de terra é aquela que fica na beira da praia quando a gente vai, o bem de terra é aquela que chora e faz que não chora quando a gente sai”. Aquele bem era eu, o Dorival baiano do disco sabia de mim. Num domingo Tavinho acordou, me beijou com aqueles olhos de mel que eram só dele. E me disse que ia voltar com tanto peixe que dava pra casar duas filhas. Eu ri, Tavinho era bobo! Partiu no Dorinha, numa praia de céu azul e mar calmo :“hoje eu vou lá fora , tô disposto”, quando dizia lá fora era mais pra dentro no mar, no alto mar. Partiu de manhãzinha e no meio do dia o tempo começou a virar. Eu vi, não foi ninguém que me contou. Anoiteceu, no meio do dia claro pra todo mundo ver, o céu tava escuro que dava medo da palavra chover. Quem viu pensou que o mundo fosse acabar. Choveu muito, de relampejar, outros pescadores chegaram, mas meu homem não voltou do mar. Nem ele, nem barco, nem peixe, nem nada! Fiquei doida perambulado, gritando o nome dele, na lua cheia das três madrugadas seguintes. Não queria mais comer, não queria mais cuidar da minha cria, não queria mais viver. Fiquei doida achando que um dia ele ia voltar, mesmo vendo seu corpo chegar na areia, roído de peixe, podre de assombrar. Durante um ano inteiro, eu fui na beira do mar. Me levaram ao curandeiro, mas não adiantava, meu coração não queria descansar, meu porto era a beira na beira da praia. Um dia, me deu um desespero e eu fui entrando no mar, acho que o meu pensamento era de me afogar; mas vinha um barco, um pingo, um ponto de vista branco no meio da paisagem. Se aproxima. Meu Deus, era o Dorinha! Voltando inteiro, seria possível que nele meu amor também voltasse? Corri para o barco, vim puxando pela corda com uma força escomunal. O que havia nele eu vou dizer: um cardume de livros! Livros didáticos, de geografia, histórica, matemática, português, ciências, uma caixa escrito biblioteca, onde tinha Pedagogia da Esperança, livro de Paulo Freire. Recolhi tudo e na luz de vela de minha aldeia aprendi sózinha o A da água, o R da rede, o M do Mar. Aprendi a ler e a escrever sozinha. Presente do meu pescador. Essa é a primeira vez que escrevo a minha história.
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