Caminhando na Estrada Cultural

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Mombaça MOMBA

Em mais essa matéria apresento a vocês Mombaça, grande músico carioca e um pouco de sua trajetória. Então... Vamos que vamos, afinal “Cultura é o melhor remédio contra todos os males do Mundo!”. Mombaça lança seu terceiro CD - AFRO MEMÓRIA + PRETINHOSIDADEO nome Mombaça foi escolhido pelo próprio artista, para que ninguém tivesse dúvida a que ele veio. A inspiração foi a cidade litorânea no Quênia, país da África Oriental, limitado ao norte pelo Sudão e pela Etiópia, a leste pela Somália e pelo Oceano Índico, que forjou o pseudônimo artístico do cidadão mais musical do Jardim 7 de abril, Paciência (bairro da zona oeste carioca), Mombaça. Isso aconteceu quando ele ainda cursava a faculdade de História na USU (Universidade Santa Úrsula), em Botafogo, bem no início dos anos 80. No fundo, ele só queria um nome que, de cara, revelasse as suas preocupações com os temas sociais da África e do Brasil. Parece até que já sabia que a opção pela música o levaria a lugares de culturas tão diversas como Austrália, África do Sul, Estados Unidos, Botswana, Quênia, Togo, França, Bélgica e Holanda como aconteceu em recente turnê.Nascido em uma família de músicos, Mombaça começou a cantar aos cinco anos de idade na Igreja Batista do bairro onde nasceu e foi criado. O primeiro disco da carreira, intitulado Mombaça, foi gravado em 1999 e lançado no ano 2000 e contou com a participação da sua amiga e parceira Mart’nália, que com ele dividiu a faixa Queixumes. O segundo veio em 2002 e responde pelo título de Afro Memória. Agora, em função do grande sucesso de Pretinhosidade na voz da cantora Mart’nália, Mombaça resolveu reeditar o anterior e lançar seu terceiro CD, Afro Memória + Pretinhosidade.Lançado em show homônimo no Centro Cultural Carioca em 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, o novo álbum perdeu duas faixas da versão original, Conferência Nacional e Dama de Ébano, mas ganhou a versão “mombacística” de Pretinhosidade (Mombaça e Mart’nália). A produção marca a estréia no mercado do selo independente Lua Negra Discos, do qual Mombaça é sócio. A capa, fotografias e produção gráfica levam a assinatura de Mariana Blanc, filha do compositor Aldir Blanc, que estréia como capista. O disco é temperado com um toque social e romântico, uma tônica do trabalho do cantor e compositor Mombaça, que ainda traz na bagagem um mix de poeta, pesquisador e jornalista. “Fui influenciado, primeiramente, pela música evangélica e, depois, pela geração de Gil, Djavan, Caetano, Gonzaguinha e Milton. Esse CD marca a hora exata de colocar o resultado do trabalho que venho elaborando há anos, sozinho e com parceiros como Orlando José Francisco Jr., Mart'nália, Sandra de Sá, Luiza Possi, Zélia Duncan, e os da nova geração, como João Suplicy, Ana Costa, Gabriel Moura, Rogê, Mu Chebabi, Thaís Gulin, Renata Gebara. Sinto-me maduro para dizer meu próprio texto depois de ter feito muito sucesso na noite carioca, bem ao estilo “banquinho e violão”, por muitos e muitos anos, abrindo espaço para artistas importantes como Gabriel Moura, Jorge Vercilo, Ana Costa e "Mário Jorge Todas", o Seu Jorge. O nome Afro Memória foi-me sugerido pelo amigo Afilófio de Oliveira Filho, o Filó, e a canção homônima presta uma homenagem a ele, Don Filó, responsável por reverberar o movimento Black Power americano nos bailes que promovia no Renascença Clube nas décadas de 1970/80. Filó é um dos mentores do banda Black Rio”.“Uma declaração de amor ao Brasil”. É assim que Mombaça define seu álbum e completa: “é dedicado ao povo negro de qualquer lugar do mundo, em especial ao afro-brasileiro miscigenado e sincrético, pacífico, trabalhador e ordeiro e, finalmente, é um tributo às personalidades do meio artístico-cultural de todos os matizes ideológicos e cromáticos, mortas, como Milton Santos, Betinho e Tim Maia, e vivas, como Sandra de Sá, Martinho da Vila, Beth Carvalho e Antônio Andrade Magaldi, Pró-Reitor comunitário da Universidade Veiga de Almeida, que facilitou-me o acesso à bolsa de estudo na UVA, muito antes da polêmica discussão sobre cota para negro nas universidades”. A idéia do nome do novo álbum, Afro Memória + Pretinhosidade surgiu porque Mombaça soube por Mart’nália que faltou pouco para que o CD Menino do Rio, lançado por ela em 2006, se chamasse Pretinhosidade. A balada afro-pop-samba-soul-latina na definição de Arthur Dapieve adotada (e adorada) por Mombaça faz referência também aos 40 anos da cantora (“Minha preciosa idade”) com quem o compositor divide também a parceria de Chega. A canção, que nasceu pop-romântica, mas virou samba (na versão Mart’nália), foi composta especialmente para um festival em Friburgo. Em Paciência (bairro carioca da zona oeste), o menino brincou, estudou, cresceu, amou, plantou árvores, fez o primeiro dos três filhos, Álisson, e foi à luta. Tivesse nascido no século anterior, teria visto a história de um amor proibido da realeza e provavelmente não contaria a sua história de amor proibido. Os apaixonados esperaram pacientemente o passar dos anos, alimentando a esperança de que seriam “sempre namorados”, na canção homônima ao bairro onde viveu e a partir do qual desbravou o mundo, quando dele saiu para estudar, viajando no trem, ramal 42, da “Central do Brasil”, que emprestou força rítmica à canção, na alusão onomatopéica que, em “mombacês” castiço, significa “Thubidhu bidhu... Paciência ”O cerne social das músicas aliado à formação acadêmica de Mombaça ajuda a marcar importantes épocas da história do povo negro e da sociedade. Mandelas, feita no período em que Mandela estava preso há mais de 25 anos, denuncia as seqüelas deixadas em todos os Mandelas do Brasil e do mundo, que sofrem com o acorrentamento ideológico por falta de instrução, trabalho, alimentação, dignidade. Já Reparação é um reggae composto em agosto de 2001, durante a 3ª Conferência Mundial Contra o Racismo, o Preconceito racial, a Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, em Durban, África do Sul, em que representantes e lideranças de Estado, governos e movimentos sociais, em passeatas, gritavam, uníssono, a mesma “palavra de ordem”: Reparações Já. Seja no título do CD ou nas músicas, Mombaça sempre presta homenagem, retribui e agradece a pessoas que o inspiraram durante sua vida e obra. Em Na serra da nossa barriga fazendo referência à Serra da Barriga, mais importante símbolo de resistência negra, que abrigou o Quilombo de Palmares de Zumbi Mombaça conta a história de lutas e conquistas do povo negro que se apoderou das ferramentas do mundo moderno e cita pessoas que inspiraram suas letras. E como falar em referências da cultura negra e do movimento negro sem citar Abdias do Nascimento? Entre Nós relembra uma palestra que Abdias, um dos mais importantes ativistas sociais do país que, além de ser intelectual, autor de importantes livros e professor renomado, fundador o TEN (Teatro Experimental do Negro), foi Secretário de estado de governo do Rio de Janeiro, Deputado federal, Senador da República, entre outras coisas. Em seu discurso ele acusava o Brasil de racismo e apelava ao povo por “consciência e fraternidade entre nós” (negros). A homenagem foi também um presente para Mombaça que apresentou a música para Abdias no aniversário de 90 anos do ativista. Menino de rua não pode morrer registra a admiração e o respeito de Mombaça aos blocos afro-baianos e cariocas que não deixam os “meninos” à margem da sociedade. Este ano, o compositor recebeu, com orgulho, um pedido do próprio Vovô do Ilê, presidente do Ilê Aiyê, para que o bloco pudesse cantar a canção nos desfiles em Salvador. A admiração de Mombaça pelas mulheres que fazem ou fizeram parte da sua vida ganha tom autoral ao falar do amor no Mirante do Leblon, quando ainda estava Obnubilado pela perda de um amor antigo. Já Quadro Negro, inspirada na única filha de Mombaça, Ana Carolina, faz uma crítica social e política à posição da mulher negra na sociedade brasileira, traçando a trajetória de quatro gerações (bisavó, avó, mãe e filha). As gírias dão o tom à música que é uma fusão de ijexá e samba. Mombaça ressalta que o quadro negro também estampa a política pública em crise há muito tempo no país: “também faço referência à lousa das escolas. Só pela educação de qualidade o negro vai sair do lugar e lutar com armas mais pesadas contra o preconceito racial, disseminando, como sempre fez, o princípio da igualdade: somos todos filhos da raça humana”. Filho de Xangô, no Candomblé, Mombaça tem a esperança de que um dia haja justiça para que suas palavras e suas armas melódicas e harmônicas sejam usadas para falar somente de amor. Obs.: Espero que todos estejam gostando de nosso portal cultural e se por ventura tiverem algumas idéias, podem me enviar que responderei com o maior prazer, no caso de pedidos com matérias relacionadas a qualquer assunto que seja Cultura também será hiper bem vinda e me empenharei ao máximo para realizar o desejo de cada um de meus leitores. Material cedido gentilmente por Mombaça e publicado por mim Márcia Martins na Revista Encontro - Maricá - RJ.

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